Software SIG: livre ou comercial?

Software SIG: livre ou comercial?
Para quem trabalha diariamente com Informação Geográfica digital, está cada vez mais na ordem do dia qual o tipo de tecnologia ou software a utilizar no processamento, armazenamento e visualização desta mesma informação. Muitas vezes sou confrontado por diferentes tipos de analistas com a seguinte pergunta: "Que devo privilegiar como tecnologia SIG, a livre ou a comercial?"

As respostas simplistas para questões tão complexas nunca bateram certo nem nunca convenceram ninguém... Sendo utilizador de programas com licenças comerciais, freeware (grátis e de domínio público mas com proprietário, havendo impedimento em "alterar" o programa-base) e "open source"/livre (grátis, de domínio público e "código aberto", pronto a ser alterado, melhorado ou adaptado), e não estando "a soldo" nem de um lado nem de outro (sou um simples utilizador), estou perfeitamente à vontade para falar neste tema. Todos os principais argumentos aqui esgrimidos para "defender" o software comercial (a galinha de ovos de oiro, que começa a "tossir" com o avanço das iniciativas de software livre), são exactamente os mesmos que são usados pelos apologistas do desenvolvimento do software livre, ou sejam:
- Produtos à medida do utilizador, isto é, nada de "super-plataformas" e dezenas de extensões e funcionalidades que fazem mil e uma coisas quando o utilizador final/cliente só pretende realizar 2/3 tarefas básicas e repetidas. Eles perguntam: não será melhor conceber um produto específico e adequado a essas necessidades (passível de ser melhorado quando se queira) do que comprar logo uma mega-solução que não responde directamente e especificamente às suas necessidades?
- Assistência técnica: com todo o material disponibilizado na Internet, com todos os fóruns e listas de discussão existentes (resposta na hora!!!), e com o facto da maior parte dos representantes de "marcas" serem cada vez mais vendedores (gestores e marketers) e menos técnicos (dominam o essencial do software, que lhes permita fazer uma apresentação pública, muitas vezes mais baseada em powerpoint ou flash que no dito software), como se pode argumentar nestes dias com a existência/não existência de assistência técnica como um argumento de peso para seleccionar o tipo de software/licença a adquirir?
- Estado-da-Arte em termos de desenvolvimento de software SIG: Poder-se-á afirmar que o software proprietário já foi o único e neste momento ainda é o principal promotor do estado-da-arte no desenvolvimento de soluções SIG (Smallworld para redes/"utilities", por exemplo), mas discuta-se essa primazia científico-tecnológica com utilizadores de MapServer (WebGIS) ou GRASS / SAGA - SEXTANTE (Análise Espacial), como exemplos mais paradigmáticos, e todos os argumentos esgrimidos podem sair bem furados...
- Mérito: SEM DÚVIDA que foi sobretudo devido à visão, investigação e trabalho de grandes "casas" como a ESRI, INTERGRAPH e AUTODESK (sem menosprezar as outras) que o sector das TIG chegou ao patamar onde se encontra neste momento, e com a pujança económica que se sabe (até as ultra-milionárias Google e Microsoft se tiveram de meter nisso para não perder o comboio), mas todas foram compensadas economicamente (e muito bem) por todo esse investimento; portanto nada de argumentar com moralismos neste domínio.
- Confusão de conceitos:Software Livre não é necessariamente igual (e será cada vez menos igual) a software grátis! A cada dia que passa, são criadas mais empresas que se dedicam exclusivamente à criação de soluções adequadas e ajustadas a cada cliente, desenvolvidas a partir do software livre, e obviamente que cobram por isso. O problemas das grandes casas com o software livre é precisamente esse, e é de ordem estratégica: qualquer bom programador em parceria com um bom técnico (geógrafo, engenheiro, o que seja) podem desenvolver produtos de alta qualidade e performance sem partirem do zero (a partir da licença "Open Source"), e competir directamente com muitos menos custos com os geo-tubarões, com soluções mais personalizadas e menos "standard"... Este é um sector em grande expansão por exemplo no Brasil, e um factor de inovação tecnológica e arrojo económico (é mais ou menos isso que pretende estimular o tal "Plano Tecnológico" do Eng. José Sócrates e do Dr. Carlos Zorrinho), fruto de um trabalho levado a cabo por uma (verdadeira) comunidade de "desenvolvedores" que trabalham em comum, salvaguardando naturalmente os seus interesses individuais.
-Oportunidade: O software livre é por isso uma oportunidade, não um "fait-divers", e veio definitivamente para ficar, por isso tenho defendido com muita convicção a eficiente capacitação em termos de programação informática aliada à utilização de software livre nas Escolas Profissionais e Universidades onde se produzem técnicos directa ou indirectamente ligados à produção e disponibilização de informação geográfica. Quando lançados no mercado de trabalho, terão autonomia, criatividade e capacidade crítica suficiente (ou não) para se integrarem no mercado, a título individual ou em empresas, sem dependerem da existência da licença do software "X" na empresa ou instituição do potencial empregador.
Moral da história: Deixem o Mercado funcionar!
Mensagem às Universidades e Escolas Profissionais: Invistam mais na autonomia, criatividade e capacidade crítica dos vossos alunos/formandos e menos na disponibilidade ou não de licenças "X-P-T-O" nos vossos laboratórios de SIG.
Até à próxima!
Artur Gil - Analista de SIG e Moderador da LusoGIS (Lista de Discussão Lusófona sobre Tecnologias de Informação Geográfica)
PS: Recomendo a consulta dos seguintes links relacionados:
http://www.osgeo.org/ (Open Source Geospatial Foundation)
http://www.gvsig.org (Projecto de Software SIG Livre do Governo Regional de Valência, em Espanha)
http://www.freegis.org (Drectório de Software SIG Grátis)
http://www.softwarelivreparana.org.br (Movimento Sofware Livre no Paraná, Brasil)

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