Porque digo não à reciclagem, por Jairo Brasil
Mais um relatório sobre as condições climáticas do planeta mostra a ameaça que nos espera doravante. Mas, desta vez, mesmo que mudemos o paradigma moderno de crescimento constante, isso não significará alterações expressivas. O que o relatório do IPCC diz é que, as mudanças no clima da Terra são reais e consequência de atitudes irresponsáveis.
Como Lutzenberger enfatizou em seu Manifesto Ecológico Brasileiro de 1980, não houve até o presente momento uma geração tão indolente quanto a nossa. Dentre aquelas tantas que habitaram o planeta até agora, somos a que mais dilapidou os recursos naturais do planeta, sem levar em consideração as gerações precedentes.
Mas alguém poderia dizer: “Sim! Mas estamos avançando na reciclagem de alumínio, plástico, papel, etc.” Somos a geração que mais tem reciclado materiais utilizados nas mais variadas formas de objeto de consumo.
Digo-lhes então: “E basta somente isso? Nossa geração inovadora não foi aquela que inventou e incentivou o “descartável” e o “supérfluo”?”. Não fomos nós que inventamos o curso superior de Propaganda & Marketing?
Aliás, eu diria: “Não estaria na hora de deixarmos a reciclagem de lado e pensar de forma mais profunda os outros “erres” da educação ambiental? Parece que os outros “erres” ficam esquecidos nos tempos atuais”.
Bem! Vejamos:
O primeiro “erre” é aquele ao qual devíamos dar importância fundamental em toda cadeia produtiva. Ou seja, vamos “reduzir”. Esta seria a palavra mágica para fazer do planeta um lugar habitável por mais algumas centenas de anos. Reduzir o consumo! Reduzir o desperdício! Reduzir o esbanjamento! Mas aí vem a dúvida: “Será que eu posso viver com um só aparelho de televisão em casa? Ou necessito pelo menos uma no quarto e outra na sala? Será que posso viver com um celular sem câmera? Ou devo comprar um celular com câmera e uma câmera digital para colocar as fotos no “orkut””?
O segundo “erre” seria alternativa essencial para expandir a vida útil dos recursos naturais que sugamos do planeta e que demoraram cerca de três milhões de anos para serem acumulados. Ou seja, vamos “reutilizar”. Este seria o verbo adequado para quem se preocupa verdadeiramente com o futuro. Novamente pode-se perguntar: “Alguém reutilizaria aquela camisa amarfanhada que o irmão mais velho esnobou em muitas festas e baladas? Calçaria aquele tênis demodê que o tio usou duas ou três vezes e abandonou? Usaria aquele antigo celular que, embora não tendo câmera digital, ainda é útil para ligações nacionais e internacionais?”.
E o terceiro “erre”? Por que só nos preocupamos com o terceiro “erre”? Por que queremos somente reciclar? Por que ele é o mais confortável de todos os três? Nele eu continuo consumindo os recursos do planeta e jogando todo o lixo separado para o “catador”. E ele? Que se vire com o refugo por mim descartado?
Que tal este desafio de refletirmos a respeito?
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